A Psicanálise ainda está em crise?
- NOS - Núcleo Observando do Sul
- 3 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de out. de 2024

Gisálio Cerqueira Filho
Para o Dr. Carlos Alberto Barreto
(in memorian)
O livro “Crise na Psicanálise” foi editado pela Graal Editora (R.J), e foi lançado em agosto de1982 na PUC-Rio. Participaram como coautores os Drs. Carlos Alberto Barreto, Eduardo Mascarenhas, Fábio Lacombe, Gisálio Cerqueira Filho (org.), Hélio Pellegrino, Joel Birman, Wilson Chebabi.
Como desfrutamos da amizade de Carlos Alberto Barreto pudemos acompanhá-lo e fruir das suas leituras e vivas observações que se prolongaram por décadas além do contexto histórico das lutas pelas liberdades democráticas entre 1978-1982, que resultaram no livro em questão. Entre suas reflexões, duas bem interessantes expressões anotamos: cosmético e fálico. Elas seriam metáforas com potencial a se transformar em construtos teóricos da hora presente.
No Editorial Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica Rio de Janeiro (vol. 8, no .3, setembro-dezembro, 2016, p. 421-425) destacamos estas expressões, que retomamos por aqui.
Mas antes, queremos recordar a justa homenagem que prestamos naquele ano de 2016 aos dois ícones das ciências humanas também falecidos. Referimo-nos a Manoel Tosta Berlinck (1937-2016) e Evaristo de Moraes Filho (1914-2016), dois expoentes das ciências humanas no Brasil. Cada um deles foi professor de um de nossos editores, respectivamente de Teoria Política (IUPERJ, mestrado,1971) e Sociologia do Trabalho (Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (FNFI-UB), graduação,1968). Manoel T. Berlinck era sociólogo e psicanalista, presidente da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF), membro do Conselho Editorial de Passagens. A ele devemos o aporte experiente de editor da Revista Latino-americana de Psicopatologia Fundamental e membro da WAME – World Association of Medicine.
Manoel Berlinck foi, ainda, membro do Conselho Editorial de Passagens. Dele assim falou a eminente psicanalista e historiadora Elisabeth Roudinesco: “auteur des nombreux livres et articles, grande figure de la psychalyse brésilienne, proche en France de Pierre Fédida et de Roland Gori, il a joué um rolê fondamental dans la diffusion universitaire du savoir freudien et a formée des nombreux élèves”.
Evaristo de Moraes Filho, sociólogo, advogado, jurista, professor, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), foi e permanece uma legenda no campo da Sociologia do Trabalho no Brasil. Doutor em Direito e Ciências Sociais, foi professor na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Procurador regional da Justiça do Trabalho, em Salvador, recebeu os títulos de Professor Emérito (UFRJ) e Doutor Honoris Causa (UFF). Publicou vasta obra sobre no campo do Direito e da Sociologia, do Pensamento Social no Brasil, Filosofia e Sociologia do Direito.
Retornando aos comentários sobre Carlos Alberto Barreto, destacamos que possuía graduação em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro(1960), especialização pela Escola de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas(1967), especialização pela Associação Brasileira de Psiquiatria(1972), especialização pela Sociedade Psicanalítica do RJ(1976), especialização pelo Hospital Pinel - Porto Alegre/RS(1968), especialização pela Sociedade Brasileira de Pediatria(1965), especialização pelo Associação Psiquiátrica do RJ(1970), especialização pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise(1978), especialização em Formação de Oficiais Médicos pela Escola de Saúde do Exército(1970) e mestrado em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da UFRJ(2001).
Carlos Alberto Barreto faleceu, em 18 de agosto de 2016. Era Mestre em Comunicação Social pela ECO-UFRJ, tendo sido orientado pelo Prof. Dr. Muniz Sodré de Araújo Cabral. Barreto liderou o “Fórum de Debates” da SPRJ., criado num momento de aguda crise da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ).
Naquela ocasião era uma das duas associações reconhecidas pela International Psichoanalytical Association (IPA), fundada pelo próprio Sigmund Freud. O Fórum foi a “praça política” da Psicanálise no Rio de Janeiro e Carlos Alberto Barreto, liderou movimento que não recalcou os aspectos histórico-sociais no laço formado pelas questões: científica (teoria psicanalítica), técnica (a clínica propriamente dita) e política (a ideologia). Esteve permanentemente acompanhado do companheiro, também psicanalista, Hélio Pellegrino. No início dos anos oitenta do século passado foi lançado o livro “Crise na Psicanálise” (acima mencionado) no Solar Grandjean de Montigny (PUC-RIO), obra de referência para a Psicanálise naquele instante político eletrizante. Carlos Alberto Barreto foi nosso parceiro desde os seminários sobre "Ideologia e Psicanálise", realizados no fim dos anos 1970, e na construção das linhas de pesquisa sobre "Política e Subjetividade" nos Departamentos de Sociologia e Política (PUC-RIO) e Ciência Política (UFF). Também nos campos da Psicopatologia Fundamental, Psicossomática e no Laboratório Cidade e Poder (LCP-UFF).
Jamais onipotente ou dono da verdade, a lembrança do Dr. Carlos Alberto Barreto nos faz comentar as atuais expressões: “homens cosméticos e mulheres fálicas” que situava o individualismo acentuado em tempos de avanço e hegemonização do neoliberalismo. De um lado, um exacerbado individualismo que já havíamos designados como “fóbico”[1] (o individualismo fóbico a exercer práticas e concepções políticos de fragmentação do social, emergência exacerbada do consumismo e fechamento de homens e mulheres no seu mundinho; empobrecimento da vida em sociedade, violências e agressividade.
Algumas lembranças no momento que se em Recife novos congressos (brasileiro) e (internacional) da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF), agora sob a direção do eminente professor e psicanalista Dr. Sérgio Franco.
[1] CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Édipo e Excesso. Reflexões sobre Lei e Política, Porto Alegre: Sérgio Fabris Editor, 2002.
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